Este texto foi produzido por Arthur Trauczynski, o Tuca, que é Empreendedor e sócio-diretor da Global Vita Sports.
Tenho escutado frequentemente essa frase de grandes organizadores que contribuíram imensamente para formar e desenvolver o mercado de running como conhecemos hoje.
De fato, isso é uma baita verdade, mas ampliar o portfólio de produtos, oferecendo soluções que se adequem à realidade que estamos vivendo, não é demérito algum. Como organizador, gostaria de dividir cinco grandes aprendizados que desenvolvi ao longo desse ciclo pandêmico:
1) Mudar o mindset de “organizador” para o de agência de marketing esportivo
Na minha leitura, é um erro pensar que lançar desafios virtuais ou vender kits de prova é o mesmo que organizar um evento presencial de corrida (ou de qualquer outra modalidade). Como diz o ditado: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
São produtos completamente diferentes, que demandam inclusive a construção de novos frameworks para o processo de planejamento, diferentes habilidades para os profissionais envolvidos e uma mudança de protagonismo entre os principais núcleos para colocar esse produto em pé. Mas independentemente dessa mudança ser, ou já ter sido, organizador é uma vantagem, pelo conhecimento do público, robusta base de clientes e confiança transmitida pelo histórico.
2) Mudança estrutural nos principais núcleos da empresa para a criação de novos produtos
Qualquer empresa ou negócio tem diversos núcleos e profissionais que contribuem para que a máquina funcione adequadamente. Mas, alguns são mais estratégicos e essenciais para a viabilização de determinado negócio.
No passado (longínquo já!) do universo das corridas, os principais núcleos de uma empresa de organização de eventos eram o de produção e captação de recursos.
Isso porque é impossível desenvolver um produto de qualidade e viável economicamente sem uma equipe de produção trabalhando pela excelência na entrega, assim como sem um comercial (ou time comercial) captando recursos e parceiros para viabilizar o evento como um negócio.
Nesse “novo” ambiente dos desafios virtuais, o bastão do protagonismo foi transferido para os núcleos de marketing, compras e logística. Essa mudança aconteceu porque estamos falando sobre produtos diferentes, com necessidades e características diferentes.
Para exemplificar, seguem abaixo algumas das principais atribuições e razões desses núcleos nesse novo cenário:
Marketing:
- Criação ágil e testagem de novos produtos sem que isso implique em grandes perdas financeiras;
- Criação de narrativa e estética dos produto (fio condutor entre o produto e interesse do seu cliente em participar do desafio);
- Estudo e entendimento mais preciso do consumidor;
- Mineração de dados da base para formulação de personas que orientarão a criação de produtos e desenvolvimento das campanhas;
- Planejamento e replanejamento contínuo do framework de comunicação do produto;
- Atendimento cada vez mais personalizado e automatizado (esse é um grande desafio diante da escalabilidade do produto);
- Entendimento de conceitos e implementação de técnicas de GROWTH (crescimento) marketing.
Compras e logística:
- Compra de insumos de qualidade com o melhor preço possível;
- Aproximação do fornecedor para construção de uma produção de itens sobre demanda (é bem desafiador entregar materiais de qualidade com agilidade para o cliente, sem a necessidade de compor estoque e correr riscos);
- Profundo conhecimento de logística para orientar a criação dos produtos (o peso e dimensões tem grande influência nos custos de despacho) e viabilizar a forma mais acessível de entrega.
3) O ambiente de negócios mudou para sempre
Não haverá mais eventos físicos ou eventos virtuais. Retomaremos a caracterização de “eventos”, contemplando parte da entrega no físico e outra no digital. Aprendemos muitas coisas com o virtual e não explorar isso nos eventos futuros é uma falha.
O virtual ampliou a plataforma dos eventos para um mundo de possibilidades de novas interações com os atletas, entrega de novas experiências, ativações de marcas para os patrocinadores, controle de dados, entre vários outros benefícios. Fato é que enquanto todos os mercados estavam sofrendo disrupções, o mercado de corridas estava ali, meio de escanteio, sem sofrer tantos impactos. Com a chegada da pandemia, fomos forçados a nos reinventar, o que no longo prazo favorecerá os atletas, patrocinadores e clientes.
Essa transformação, na minha leitura, se dará em três momentos. A curto prazo, as características e entregas dos eventos virtuais serão muito próximas dos eventos físicos. A médio prazo, com a retomada dos eventos físicos, será muito comum os eventos híbridos (físicos e virtuais simultaneamente), cada vez mais conectados e pensados em uma jornada única de experiência.
Já, a longo prazo, além dos híbridos, veremos um novo tipo de evento esportivo virtual muito mais evoluído, uma jornada de experiência totalmente repensada, assim como características mais próximas de um produto digital do que um evento como tradicionalmente conhecemos.
4) Apegue-se ao seu propósito, e não a projetos
Quem convive e trabalha comigo sabe o quanto me apeguei aos projetos em que atuamos historicamente. Me apego às histórias, às pessoas, à proposta de determinado projeto aqui ou acolá, muitas vezes de forma ruim e negativa para o negócio. Durante o último ano, ficou claro oquanto essa conduta pode ser prejudicial para a saúde das minhas empresas.
Como empresário ou executivo de negócios, fazer isso é uma irresponsabilidade, independentemente do quão válidos e belos pareçam os motivos naquele momento. Um projeto que traz prejuízo financeiro não se justifica, a não ser por uma razão pontual e estratégica em que seus retornos positivos decorram de outra origem e possam ser previamente mapeados de forma consciente.
Não se apegue a projetos, estabeleça sim um propósito claro que paute a criação de novos negócios e tomada de decisões.
Quando falo propósito, não digo de forma supérflua.
Me refiro àquilo que vem do centro do seu corpo, que você sente na amígdala quando pensa nele e, mesmo nos piores momentos, te faz levantar da cama e seguir em frente. Acredito que no futuro próximo, esse vai ser um dos principais fatores de diferenciação e sucesso entre as empresas do mercado esportivo (ou de qualquer segmento, na realidade).
5) A mudança é traumática, muito dura, mas necessária
É muito difícil mudar. Falo isso com propriedade por sentir a dificuldade dessa mudança na própria pele, assim como perceber no ambiente e nas pessoas do meu convívio. O momento de transição e incertezas que vivemos promove, por si só, uma enorme ansiedade. Mas, se não estivermos abertos às mudanças e consequentes aprendizados, te digo: essa postura deveria ser fruto de uma ansiedade ainda maior, nesse caso, de forma real e justificada.
O principal ponto para colhermos o que é de bom neste momento é mudar a atitude e postura pessoal. É abrir a cabeça para o fato de que precisamos aprender coisas novas deste ambiente ao qual não estávamos acostumados. O nosso preparo e o tempo se encarregarão de fazer com que os resultados positivos gradualmente comecem a acontecer.
Parafraseando a frase do monge budista, protagonista do documentário “ Em busca pelo bem-estar”, que assisti esses dias no Netflix, todos os dias comemos e respiramos de forma inconsciente; e nosso próprio corpo se encarrega de digerir os alimentos e transforma-los em energia, assim como pegar o oxigênio do nosso pulmão e oxigenar todo o corpo.
A vida funciona da mesma forma.
Não podemos controlar tudo e prever todos os resultados. Não tente controlar obsessivamente ou entender todas essas mudanças. Em alguns momentos, simplesmente devemos fazer o melhor que pudermos fazer e acreditar que dará certo!
Espero que esse aprendizado que pude absorver contribua com a sua realidade de alguma forma.
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Nos vemos do outro lado!